sexta-feira, fevereiro 10, 2006

As Aparências Enganam



Começar um post sobre rock com um clichê desses pode parecer estranho, mas foi a melhor expressão que eu encontrei para resumir o álbum de hoje, A Mão de Mao, lançado em 1987 pela Epic/CBS pelo Metrô. Tudo bem, o passado os condenava. O disco Olhar, de 1985, a despeito de ter feito um grande sucesso com músicas como Beat Acelerado e Tudo Pode Mudar, era mais um de vários discos lançados à época, no rastro da new wave americana. Um disquinho convencional, sem maior importância. A banda formada por franco-brasileiros dissolve-se e sua vocalista Virginie lança um trabalho solo, significativamente intitulado Má Companhia (não ouça!). Dois anos depois, eis que ressurge o Metro (agora sem acento) com o disco em questão. Nos vocais a prmeira surpresa: um português de nome Pedro Parq, egresso da banda Mler If Dada, expressivo representante do underground lusitano, com uma voz potente e muito boa, além de letras totalmente inovadoras para o cenário nacional. A Mão de Mao é um disco experimental. Novas sonoridades, novos instrumentos, guitarras entre o psicodélico e o punk (isso mesmo!) e diversas referências literário-musicais, fazem deste disco um dos melhores do rock nacional e injustamente esquecido por crítica e público. Músicas como Ahnimais (Wiss), A Mão de Mao e Habhitantes têm em suas letras forte influência da linguagem poética contemporânea, com textos desfragmentados e vários experimentos sintáticos. Já Gato Preto, a única que tocou em algumas rádios é cheia de elementos míticos e Lágrimas Imóveis é puro lirismo. É um disco que vale a pena ser ouvido. para provar que nem tudo é o que parece. Reforça esta recomendação o fato de que a banda lançou, em 2002, um novo disco, Déjà Vu, com Virginie e o pop superficial de volta. Pena que músicos com tanta qualidade foram desperdiçados desta forma. Quanto ao Pedro Parq, desconheço seu destino atual, mas no pouco tempo que andou por aqui deixou a marca de sua inteligência e ousadia no rock brasileiro.