segunda-feira, janeiro 09, 2006

Prazeres desconhecidos


Atendendo ao gentil convite que me foi feito pelo amigo Celso, idéia de pouco tempo atrás, eis-me aqui pra falar sobre uma de minhas paixões, o bom e velho rock'n'roll. Nem sempre comentarei algum disco em particular, mas já que se trata de um primeiro post, que este sirva como uma carta de intenções: escolhi falar sobre o segundo disco do Joy Division, Closer, lançado em julho de 1980, dois meses após o suicídio do vocalista Ian Curtis.

O Joy Division era um corpo estranho na paisagem calcinada do rock pós-77 na Inglaterra. Enquanto seus contemporâneos tinham aquela atitude punk-política de "vamos desafiar o sistema", o Joy Division falava de subterrâneos pessoais. Enquanto outras bandas buscavam a publicidade (nem que fosse pra cuspir nas câmeras), o Joy se escondia atrás de enigmas visuais e simbologias. Enquanto o primitivismo punk desabava sobre si mesmo, o Joy apontava novos caminhos para o cenário pós-punk.

Ok, eles começaram como mais uma banda punk qualquer - quem duvidar basta ouvir "At a later date", primeiro registro deles, ainda sob a alcunha de Warsaw. Mas aos poucos, e com a ajuda do produtor Martin Hannett, foram destilando seu som - depois do seco e sombrio álbum de estréia, Unknown Pleasures, ficou claro que aquela não era apenas mais uma banda punk.

O segundo disco era crucial: repetir a fórmula ou ampliá-la? A resposta foi Closer, ainda mais denso e complexo do que seu antecessor. O disco abria (embora não tivesse explicitamente "Lado A" e "Lado B") com "Atrocity Exhibition", talvez o mais próximo que eles tenham chegado do noise puro - muita distorção, batida tribal e ruídos emoldurando a letra angustiada de Curtis, inspirada em um livro de J.G. Ballard, autor que o vocalista apreciava.

"Isolation" vinha em seguida, com teclados (pouco explorados no primeiro disco) assumindo o primeiro plano, e dando o tom gélido-porém-emocional de todo o álbum. "Passover" é desértica, quase minimalista. "Colony" é um mergulho nos distúrbios mentais - reflexo dos problemas que Curtis tinha com a epilepsia. "Heart and Soul" começa com o característico riff de baixo que era marca registrada do Joy, para explodir depois em camadas de guitarras estranhamente frias e tocantes ao mesmo tempo.

E o disco fecha com duas das obras-primas do Joy Division. "The Eternal" é a melhor trilha sonora de funeral que alguém poderia imaginar, com pianos abafados e lentos, a batida funérea que lembra a cadência de quem carrega um caixão, a letra que fala sobre... uma procissão fúnebre. O mais chocante é que nada disso soa como pose. É música que te pega pela garganta, te derruba no chão e faz ter vontade de se esconder debaixo da cama. A última música, "Decades", é toda construída em torno de climas e atmosferas criados com camadas de teclados tristes, tristes, tão tristes... enquanto Ian, com aquele vozeirão de animador de velório, destila versos que ficaram clássicos: "Here are the young men, a weight on their shoulders / Here are the young men - well where have they been?", um lamento pela juventude sem rumo.

Quando a última nota dos teclados se dissipa, impossível não sentir um nó na garganta e uma vontade instantânea de morrer. Mas que bela morte seria, hein?

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Olha, olha! O blog já começa matando a pau! Desejo toda a sorte e inspiração do mundo pra vcs dois. Que este blog traga muito rock n´ roll para os leitores!

3:03 AM  
Anonymous Anônimo said...

Bem-vindo amigo. Começo em alto estilo. Discaço de um dos maiores grupos que já existiu.

Deadmen está no ar!

7:41 AM  
Blogger benechaves said...

Olá Celso: como prometi, estou aqui lendo algo sobre o rock e aprendendo mais sobre este estilo musical sempre aclamado por vc.Desejo boa sorte e sucesso juntamente com seu amigo. Voltarei outras vezes.

Um abraço...

2:35 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ótimo isto aqui e bem promissor. Embora goste mais do New Order do que do próprio JD, reconheço o quão o grupo foi importante para definir o rosto do som pós-punk inglês. E as dancinhas do Ian era impagáveis ;) Boa sorte no trampo!

5:56 PM  
Anonymous Anônimo said...

Celso, não conheço muito o Joy Division. Algumas músicas que são du caralho... Um amigo é fascinado, bela homenagem. Abraço.

2:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

Billy, adorei o texto. Como sempre, muito bem escrito. Graças a ti conheci mais o Joy e graças ao New Order simpatizei mais com algumas músicas - tirando, é claro, os assovios do Bernard. E olha lá hein, dia 28, 24h Party People. Boa sorte com o blog novo :)

12:05 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bonjour, deadmenandlollypops.blogspot.com!
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10:30 PM  

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